MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (1º) que não busca criar um “poder paralelo” ao tentar eleger a maioria na Câmara e no Senado em 2026 para enfrentar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele destacou que seu objetivo é representar legitimamente uma “maioria silenciosa” e considerou injusta a reportagem da Folha que abordou o tema.
Durante um ato na Avenida Paulista no domingo (29), Bolsonaro foi explícito sobre suas intenções: “Se vocês me derem 50% da Câmara e do Senado, não importa onde eu esteja, quem liderar vai ter mais autoridade que o presidente da República”.
Como está inelegível até 2030, sua estratégia seria ocupar um cargo de liderança no seu partido, o PL, e a partir daí influenciar os representantes da legenda no Congresso Nacional.
Nesta terça-feira, em postagem no X, antigo Twitter, Bolsonaro tentou suavizar sua declaração: “Reiteramos que não há – e nunca houve – qualquer estrutura ‘paralela’ ou atuação fora dos parâmetros legais e democráticos”.
Ele acrescentou que seu objetivo sempre foi ampliar a representação de uma maioria expressiva da sociedade que, apesar de significativa, tem sido sistematicamente excluída dos espaços institucionais.
Segundo ele, trata-se de um esforço transparente e dentro das normas da democracia: defender ideias, ocupar espaços e disputar narrativas não constitui ameaça, mas sim a essência da democracia.
Na segunda-feira (30), a Folha revelou que Bolsonaro pretende formar uma maioria no Congresso para contrabalançar o STF, considerando até a possibilidade de um sucessor bolsonarista vencer a Presidência da República.
O termo “poder paralelo” na reportagem se refere à influência que o ex-presidente deseja manter apesar da inelegibilidade. A reportagem não insinuou qualquer ilegalidade.
Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro tem enfatizado a importância de garantir maioria no Senado, que pode aprovar pedidos de impeachment contra ministros do STF. Declarações recentes demonstram claramente seu interesse no controle dessa Casa.
Aliados afirmam que o ex-presidente está mais focado em comandar o Senado do que em eleger o próximo presidente. Inelegível, ele já afirmou que, com maioria no Congresso, terá mais poder que o chefe do Executivo.
Bolsonaro também intensificou suas declarações sobre a importância de dominar a Câmara dos Deputados, onde ficou travada a votação da anistia aos presos e condenados pelos ataques golpistas em 8 de janeiro.
No ato da Paulista, o ex-presidente admitiu que pode estar preso ou até morto durante as eleições, um cenário que ele tem abordado desde uma entrevista na qual disse que a prisão seria o fim de sua vida.
Caso condenado por crimes como organização criminosa armada, tentativa de golpe contra o Estado democrático, entre outros, ele pode receber pena superior a 40 anos de prisão.
“Com essa maioria, elegeremos nosso presidente da Câmara, do Senado e do Congresso, além da maioria das comissões importantes em ambas as Casas”, declarou domingo a um público menor que em manifestações anteriores.
“Nós escolheremos não só o presidente da República, mas também o presidente do Banco Central e todo seu secretariado. Seremos responsáveis pelo destino do Brasil”, completou.
O ex-presidente quer que o PL tenha ao menos um candidato em todas as unidades da federação, e onde não for possível eleger um bolsonarista raiz, a estratégia é formar aliança com partidos aliados, como União Brasil-PP e Republicanos.
A prioridade para conquistar o apoio do ex-presidente será demonstrar disposição de enfrentar ministros do STF, principalmente Alexandre de Moraes. Até os suplentes dos candidatos estão sendo avaliados por Bolsonaro.